Jacarés são monitorados com radiotransmissores no Pantanal

O comportamento de jacarés no Pantanal, em Mato Grosso, está sendo acompanhado mais de perto por cientistas. A Embrapa Pantanal está utilizando a técnica da radiotelemetria para acompanhar os animais. Trata-se do implante de um radiotransmissor dentro da membrana que reveste internamente o abdômen do jacaré. A técnica ajudará a entender como os os jacarés se relacionam com o meio em que vivem.

A pesquisadora Zilca Campos, responsável pelos estudos, explicou que os jacarés são animais ectotérmicos, isto é, a temperatura corporal é controlada pelo ambiente. "Nós buscamos conhecer sua temperatura corporal e as relações com as temperaturas do ar e da água e o seu comportamento. Esse conhecimento ajudará a entender sua biologia e como eles se relacionam com o ambiente em que vivem", diz a pesquisadora.

Um jacaré adulto da espécie Paleosuchus palpebrosus está sendo monitorado na região da Serra do Urucum, no entorno do Pantanal. Nos últimos anos, a Embrapa Pantanal já acompanhou 51 jacarés da espécie Caiman crocodilus yacare, na região central do Pantanal, com o objetivo de determinar taxa de dispersão e comportamento.

"Em breve, novos indivíduos, jovens e adultos, serão monitorados com a técnica de radiotelemetria", disse Zilca. Segundo ela, a temperatura corporal alta, em dias de verão, influencia no comportamento de alimentação, movimentação, reprodução. "Em dias mais frios, os jacarés precisam se aquecer e se expõem ao sol, para elevar sua temperatura acima da temperatura da água", explicou. O animal também pode permanecer imóvel, em buracos ou folhagens, esperando as temperaturas subirem.

Esse tipo de estudo já foi feito com o jacaré-do-Pantanal e recentemente vem sendo realizado com o jacaré-paguá, que vive no entorno do Pantanal em pequenos riachos e cabeceiras de rios que drenam o Pantanal. "Aparentemente, eles suportam temperaturas mais baixas do que os jacarés do Pantanal, muito em função das características do ambiente de águas mais frias e correntes", disse Zilca.

A técnica de radiotelemetria é usada para obter informações necessárias para conservar e manejar as espécies e também permite elucidar e revelar segredos da história de vida dos animais. A experiência com o uso da técnica permitiu concluir que o movimento tem um papel importante na vida dos jacarés.

"É possível também entender seu comportamento de estivação, quando o animal adota a estratégia de se entocar em período de estresse, em resposta a distúrbio no seu ambiente", explicou.

O estudo também alerta para as ameaças nos habitats dos jacarés, principalmente no entorno do Pantanal, que poderão refletir na conservação das espécies.

Para implantar o radiotransmissor nos jacarés é feita uma cirurgia por veterinários adotando a técnica de resfriamento, isto é, abaixando a temperatura corporal do animal, em torno de 19°. Para isso, o jacaré adulto é colocado dentro do freezer por uma hora e depois recebe uma dose de anestésico local para, então, proceder a cirurgia. Todo o procedimento é feito para que ele não sinta dor e não tenha sofrimento. "A técnica que estamos usando é a tradicional, na qual o sinal do rádio é captado pelo receptor acoplado em uma antena direcional", afirmou.

Segundo ela, a Embrapa Pantanal (Corumbá-MS), Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, tem adotado outras técnicas de avaliação do estado da população de jacarés, distribuição e abundância, usando contagens noturnas em trechos de rios da Bacia do Alto Paraguai e contagens aéreas de ultraleve em fazendas e utilizando avião em escala de Pantanal.

TVCA/TV Morena

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